Belivaldo Chagas não tem um quê de Odorico Paraguaçu

Editorial.


27/08/2019 13:48

“Meu caro jornalista, isso me deixa bastantemente entristecido, com o coração afogado na daceptude e no desgosto. Numa hora em que eu procuro arrancar o azeite-de-dendê- do estágio retaguardista do manufaturamento (…), mê vem esse acusatório destabocado somentemente porque meia dúzia de baiacus aparecem mortos na praia”.

O texto acima permeia o imaginário popular a partir do folclórico do personagem da teledramaturgia nacional, Odorico Paraguaçu, prefeito da cidade fictícia de Sucupira. Odorico elegeu-se com a promessa de construir o cemitério da cidade e isto lhe garantiu vitória sobre a oposição de “ esquerda comunista, marronzista e badernenta”, no seus dizeres. Só quem já assistiu a um espetáculo teatral ou viu pela televisão o imortal Paulo Gracindo (im memorian), ou no cinema com Marco Nanini dando vida está emblemática personagem, poderá compreender o título do presente texto.

Assim como Odorico, Belivaldo é um arquétipo do político nordestino: não mede as palavras quando o acuam, aparência de mal-humorado e “cabra macho”, cercado pelo pelotão disposto a aplaudi-lo seja lá por qual motivo. Belivaldo não deseja inaugurar cemitério algum, pelo menos não na forma denotativa desta palavra, mas por motivos óbvios, e profundamente lamentáveis, já deixa seu nome umbilicalmente cravado a este vocábulo para sempre.

Galeguinho de Simão Dias desbancou nomes poderosos da cena política sergipana ao vencer com mais de 300 mil votos seu oponente Valadares Filho, de quem era assíduo frequentador da casa e sempre dependeu para conseguir seus mandatos. Com o mote eleitoral milimetricamente idealizado para criar uma espécie de transe coletivo na população sergipana, Belivaldo reiterava em 2018 que chegaria para resolver, embora não dizia de quem herdara os problemas a serem sanados.

Com a máquina a sua disposição e a caneta na mão, o atual governador ganhou “apoio crítico” da esquerda festiva e dos tais liberais na economia e conservadores nos costumes. Venceu e calou seus adversários. Mas o vocabulário e o trato sempre ríspido com quem ele interpreta que incomoda, faz do nosso primeiro mandatário uma espécie de Odorico gourmetizado. Versão HD de Paraguaçu.

Boa praça, Belivaldo nem de longe traz consigo os resquícios de coronelato que dominou a política nordestina, tampouco dos desvios de caráter do prefeito de Sucupira. Mas em suas entrevistas não há quem resista e segure, ainda que de canto de boca, as risadas depois de uma frase desconexa ou uma exemplificação nada convencional. Seus prepostos riem por obrigação, outros da maneira cômica como Sua Excelência se expressa.

Se pouco fizer durante seu mandato, Belivaldo entra para os anais da história como o governador da pipoca. É ou não algo odoricônico?

 


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