'Relação entre Brasil e China nunca foi tão necessária', diz Lula em Pequim ao lado de Xi Jinping

Lula criticou guerra comercial, defendeu papel da OMC e reiterou críticas às guerras em Gaza e na Ucrânia. Na segunda, Brasil anunciou R$ 27 bilhões em investimentos vindos da China.


13/05/2025 17:57

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (13), após reunião em Pequim com o presidente Xi Jinping, que a relação entre Brasil e China "nunca foi tão necessária".


A declaração ocorre um dia após o governo brasileiro anunciar que a China fará novos investimentos no país, que somam cerca de R$ 27 bilhões. Os aportes envolvem áreas como energia limpa, carros elétricos, mineração e delivery.

"Há anos, a ordem internacional já demanda reformas profundas. Nos últimos meses, o mundo se tornou mais imprevisível, mais instável e mais fragmentados. China e Brasil estão determinados a unir suas vozes contra o unilateralismo e o protecionismo", disse Lula.

E completou: "Guerras comerciais não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países. O presidente Xi Jinping e eu defendemos um comércio justo e baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio."

As falas de Lula contra a guerra comercial acontecem um dia após Estados Unidos e China anunciarem trégua de 90 dias na escalada de tarifas e sobretaxas adotada pelo governo Donald Trump – e retaliada por Xi Jinping.


O Brasil também tenta negociar a redução ou a extinção de tarifas adicionais aplicadas pelo governo Trump ao país, sobretudo nas exportações de aço e alumínio.

"Não é exagero dizer que, apesar dos mais de 15 mil quilômetros que nos separam, nunca estivemos tão próximos", disse Lula sobre a relação com a China.

Este foi o terceiro encontro presencial entre Lula e Xi Jinping desde o início do mandato do brasileiro, em 2023 – e o segundo em território chinês.


Em discurso antes de Lula, Xi Jinping também destacou a importância da relação entre os dois países, considerada estratégica por ele.


O líder chinês criticou as guerras comerciais e declarou que China e Brasil concordam que ninguém sai ganhando neste tipo de disputa.

"China e Brasil vão defender juntos o livre comércio e o sistema multilateral", declarou.
 
 
 Xi também mencionou o apoio de China e Brasil para mediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. A proposta dos dois países, contudo, até o momento não foi executada. A Rússia deseja retomar as negociações na Turquia.
 

Críticas às guerras
 
Lula usou o discurso ao lado de Xi Jinping para reiterar as críticas que vem fazendo às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

"Superar a insensatez dos conflitos armados também é pre-condição para o desenvolvimento. Os entendimentos comuns entre Brasil e China para uma resolução política para crise na Ucrânia oferecem base para um diálogo abrangente que permita o retorno da paz à Europa", disse.

"A humanidade se apequena diante das atrocidades cometidas em Gaza. Não haverá paz sem um Estado da Palestina independente e viável vivendo lado a lado com o Estado de Israel. Somente uma ONU reformada poderá cumprir ideais de paz, direitos humanos consagrados em 1945", seguiu.


Após a reunião e a declaração à imprensa dos presidentes, Brasil e China divulgaram duas notas conjuntas, uma delas sobre a guerra na Ucrânia.


Os dois países saudaram a disposição de Rússia e Ucrânia de retomarem as negociações de paz e se colocaram à disposição para auxiliar nas discussões.


A outra nota reforçou pontos abordados pelos presidentes nos discursos, como as críticas às guerras tarifárias e comerciais, parcerias na área de infraestrutura e combate à fome, necessidade de reforma da Organização das Nações Unidas e o fortalecimento da relação entre Brasil e China.

A nota informa que o Brasil "adere firmemente ao princípio de uma Só China" e "reconhece que só existe uma China no mundo e que Taiwan é uma parte inseparável do território chinês".


Para a China, Taiwan é uma província rebelde que ainda faz parte de seu território. Já para o governo taiwanês, a ilha é um Estado independente, com sua própria Constituição e, por décadas, se considerou o legítimo governo da China no exílio.

Acordos comerciais
 
Nesta terça, em Pequim, representantes do Brasil e da China assinaram também 20 protocolos e memorandos em áreas como agricultura, estratégia aeroespacial, ciência e tecnologia.
Na segunda, o governo anunciou R$ 27 bilhões em investimentos da China em diversas áreas no Brasil.
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil), o valor inclui:

- R$ 6 bilhões da GAC, uma das maiores montadoras chinesas, para "expansão de suas operações" no Brasil;
- R$ 5 bilhões da Meituan, plataforma chinesa de delivery – que quer atuar no Brasil com o app "Keeta" e prevê gerar até 4 mil empregos diretos e 100 mil indiretos;
- R$ 3 bilhões da estatal chinesa de energia nuclear CGN para construir um "hub" de energia renovável (eólica e solar) no Piauí;
até R$ 5 bilhões da Envision para construir um parque industrial "net-zero" (neutro em emissões de carbono) – o primeiro da América Latina, segundo a Apex;
- R$ 3,2 bilhões da rede de bebidas e sorvetes Mixue, que deve começar a operar no Brasil e espera gerar 25 mil empregos até 2030;
- R$ 2,4 bilhões do grupo minerador Baiyin Nonferrous, que anunciou a compra da mina de cobre Serrote, em Alagoas.

Há na conta, ainda, investimentos previstos da DiDi (dona do 99), da Longsys (empresa chinesa de semicondutores) e de empresas do setor farmacêutico. E acordos para a promoção de produtos brasileiros na China em áreas como café, cinema e varejo.

Missão oficial ao país asiático
 
O presidente Lula viajou à China acompanhado de 11 ministros e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), além de parlamentares, outras autoridades e cerca de 200 empresários.


Antes de chegar à China, a comitiva passou também pela Rússia, onde Lula se reuniu com Vladimir Putin e pediu um cessar-fogo na Ucrânia.

Ampliação do comércio
 
A visita à China foi planejada para reforçar a parceria comercial. O país é o principal parceiro do Brasil, e o governo aposta em ampliar as exportações.


A ApexBrasil identificou 400 oportunidades de negócios com os chineses, especialmente no agronegócio. Empresários brasileiros inauguraram um escritório em Pequim para facilitar a exportação de carnes ao mercado chinês.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também integra a comitiva e se reuniu com autoridades locais. Um dos objetivos da visita é reduzir burocracias no registro de produtos biotecnológicos.

Fonte: G1 Política


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