QUEM JÁ QUASE MORREU UM DIA?
Você lembra deste fatídico dia?
Às vezes paro, começo a rever meus atos e me pergunto “quantas vezes eu quase morri?”. Faça esta pergunta e reveja aquele dia que quase se afoga, que foi atropelado ou que quase uma doença pôs fim à sua encarnação. De todas ações a que mais me aproximei da morte foi um acidente que não participei.
Era o ano de 2002 e eu morava entre Itabaiana e Aracaju. Tinha uma namorada em Ribeirópolis e passava o final de semana com meus familiares e voltava religiosamente toda segunda-feira no micro-ônibus de Givaldo, que saía por volta das 9h. lembro-me bem daquele 11 de março. Era um dia de feira e saí da casa de minha vó para dar um beijo na namorada e pegar o transporte. Foi quando cheguei na padaria e meu sogro me pede um favor.
- Robério, vá na feira pegar a minha carne, estou muito doente.
- Vou sim, Zé, eu sei qual é a banca.
Mesmo apressado saí correndo e fui ao mercado. Chegando lá algo incrível ocorreu: ao cortarem a carne, esguichou sangue em mim. Não estou sendo dramático para valorizar o texto, aconteceu sim e várias pessoas testemunharam. Minha camisa branca ficou toda suja e percebi que apenas eu havia me sujado. Voltei até a casa, mas no caminho encontro um amigo e ex-professor que vinha no sentido contrário.
- Vai não a Aracaju?
- Vou ver se dá tempo, tenho que levar essa carne e me trocar.
- Corra!
- Até mais.
Olhei para seus pés e percebi um tênis branco, lindo e pensei comprar um para mim. Segui até a padaria Torquato, entrei no banheiro, troquei de camisa, subi as escadas e deixei a carne na mesa. Desci e me despedi de todos. Corri até o ponto e ao chegar lá o carro havia saído. Percebi que outras pessoas também se atrasaram. Esperamos então encher outra “topic” e então minutos depois, saímos tranquilamente.
Chegamos em Itabaiana e corri até o local que Givaldo ficava estacionado, mas nada dela estar lá, já havia saído há uns 5 minutos. Esperei mais dez minutos e entrei noutro transporte. Meu celular estava descarregado. Ao chegar perto de uma das pontes um engarrafamento se formava, já anunciavam que havia um acidente logo adiante. Eu, curioso como sempre, desci e fui andando até o local. Já a cinquenta metros percebi uma caçamba enganchada nas ferragens de um micro-ônibus. De primeira vista nada percebi, mas ao chegar mais perto e ver a quantidade de sangue no local meu mundo desabou. Percebi logo os pés de um dos mortos: o tênis de Robson que era professor e começava com a letra R. Por que isso? Bem, eu já era professor, meu nome começa com a letra R e era para eu estar naquele carro. Eu gelei, sentei no chão e comecei a chorar. Paguei o transporte e disse que ficaria no local. Alguns conhecidos meus apareceram e todos preocupados, pois a notícia era que eu estava envolvido no acidente.
Horas depois eu segui para Aracaju quando os corpos foram levados e encontrei com Neto, ele também já preocupado comigo. No dia seguinte voltei a Ribeirópolis, fui a todos os velórios, acompanhei todo trajeto até a igreja e depois ao cemitério. Perdi dois primos neste acidente, tão jovens... minha vida passou diante dos meus olhos, até hoje gelo todas as vezes que passo naquela curva...
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