De pebas e cabaús à pulverização política: Itabaiana e o surgimento de novas lideranças
Análise do Política de Fato.
Trabalho e política são conceitos que marcam o cerne do itabaianense, dentro e fora dos limites territoriais do município. Posicionada bem no coração de Sergipe, em área privilegiada e vigiada pelo “carneiro de ouro” que por muito tempo acreditou-se existir nos subterrâneos da Serra que leva o nome da cidade, Itabaiana é a um só tempo palco de ferrenhas disputas eleitorais mas também consegue ter um povo que se une para defender o nome do seu quinhão.
Como bem escreveu o escritor uruguaio Eduardo Galeano “se a contradição for o pulmão da história, o paradoxo deverá ser, penso eu, o espelho que a história usa para debochar de nós”. Itabaiana tem seus paradoxos mas também possui uma densa camada de história que eleva seu nome a uma espécie de franquia: noutras cidades ter seu comércio ou produto vinculado ao nome da Capital Nacional do Caminhão é sinônimo de qualidade.
Em tempos de intensa polarização política, não ousem rotular um itabaianense raiz de esquerda ou direita, embora carreguem, instintivamente em seu âmago, os dois conceitos. Contraditório? Nã, nã nin, nã, não. Provamos. Há um povo mais capitalista do que este? Há gente mais disposta ao acúmulo de capital? Há “negociantes”, mais esmerados? Quem pode “passar a perna” em um deles? Se nisto não existir o espírito do ensinamentos de Adam Smith não sabemos onde há? Mas no pólo antagônico, não há população mais socialista? A base conceitual da economia itabaianense é aumentar para dividir. Nisto, em certa medida, há esboço de um lastro de uma uniformização societária. Não conseguem capilarizar para si todo o luco, precisam dividi-lo para manter a estabilidade econômica. Há outros atributos de um bom comunista nos itabaianenses: sabem compartilhar, dividir, são solidários e creem na igualdade das pessoas.
Como disse Galeano a história usa o paradoxo para debocha e não há nada mais paradoxal do que o a descrição acima.
No campo político, é palco de espetáculos e tragédias. Desde as arengas entre Pebas e Cabaús; do fatídico episódio da morte do prefeito Euclides Paes Mendonça e o filho Antônio de Oliveira Mendonça. do longo domínio da oligarquia comandada por Francisco Teles de Mendonça Chico de Miguel); chegada de Luciano Bispo ao poder; e, mais recente, à dissidência do prefeito Valmir dos Santos Costa do agrupamento da família Teles de Mendonça. Não precisa ser período eleitoral para que o clima de disputa impere na atmosfera ceboleira. A intensidade, as paixões, e a entrega do povo na defesa do seu “lado político” é marca indelével do povo serrano.
Mas o tempo corrói amarras e lança novas pedras fundamentais no quinhão onde há muito era conhecido por “Caatinga de Ayres da Rocha”. Luciano passou de mais forte liderança a espectador privilegiado, os Teles já não possuem o capital de antes, e atualmente combatem o prefeito Valmir de Francisquinho.
O tabuleiro eleitoral atual mais parece um quebra-cabeça e cada jogador não pode errar ao movimentar as peças neste jogo. Para este pleito não há ninguém da família Bispo que queira ser o candidato e a empreitada ficou para o empresário Edson Passos; o silêncio dos Teles diz muito de como se comportarão; o PT tem em Olivier Chagas a estrela do partido para as eleições; o jovem Bráulio de Zé de Lourenço entra como o azarão mas que quer surpreender; e do lado do Valmir o martelo batido com Adaílton Souza sendo ungindo a levar o projeto do “Pato”, adiante.
A surpresa disto tudo pode ser a indicação do empresário Carlos Eloy Filho (DEM), genro do ex-deputado José Carlos Machado, à vaga de vice na chapa de Valmir. Eloy foi, de longe, o melhor secretário na desastrosa gestão de João Alves à frente da Prefeitura de Aracaju. Antenado, ciente da dinâmica dos novos tempos e conhecedor dos meandros da política itabaianense, pode ser a peça que resulte em xeque mate na eleição 2020.
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