Serginho faz audaciosa jogada política em Glória mas pode ter aberto dissidência em seu grupo
Análise do Política de Fato.
São 20 anos desde que o ex-prefeito de Nossa Senhora da Glória, Sérgio Oliveira da Silva, disputou pela última vez o comando da capital do sertão. Naquele ano, Serginho foi reeleito com estrondosa votação quando obteve 82% dos votos válidos. Filiado ao PSDB do então governador Albano Franco despontava como uma a mais forte liderança do alto sertão sergipano com possibilidade real de chegar à Assembléia Legislativa, ou mesmo à Câmara Federal. Mas em 2004 ele articula a candidatura de seu secretário de obras Aparecido Dias mas esbarra na surpreendente vitória de José Israel Andrade, o Zico, aliado do governador da época João Alves Filho.
Por que relembrar este fato? Para tentar compreender a jogada de mestre do ex-prefeito da última sexta-feira, 26, quando Serginho eleva sua irmã e também-ex-prefeita, Luana Oliveira, à pré-candidata à prefeita e de quebra aloca a vereadora Vaneide de Nivaldo da Feirinha na vaga de vice. Com isto, Sérgio volta à sua condição de iminência parda na política gloriense e nas sucessivas administrações as quais ele ajuda a eleger,e age nos bastidores onde ele é cirúrgico nas análises e nos procedimentos. Mas nunca é demais relembrar de 2004.
Mas se “história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, como lembra o pensamento hegel-marxiano, esta estratégia pode lhe custar o seu espólio político acumulado ao logo de mais de duas décadas de predomínio na terras antes chamada de Boca da Mata.
Com uma chapa puro sangue e com o PT do prefeito Chico dos Correiros fora da majoritária, Serginho sinaliza um guinada à direita e demonstra claramente subestimar o poder de engajamento e decisório das lideranças e militância do partido da estrela vermelha. Mais uma vez, Serginho usa de sua autossuficiência de Serginho, tal qual 2004, pode abrir dissidência em seu grupo e comprometer a vitória de seus liderados, no caso lideradas.
Embora tenha emitido uma nota de conteúdo muito prudente, a direção local do Partido dos Trabalhadores não deve aceitar isto goela abaixo, nem seguir cegamente a decisão pessoal de Chico dos Correios, e tampouco pedir voto para a chapa pessedista. Quem conhece minimamente a democracia interna do PT e as rígidas análises de conjuntura sabe muito bem que os vermelhinhos não deixarão isto barato.
Com uma piscadela sedutora para o eleitor bolsonarista gloriense, Serginho fez analogia à ocupação de cargos do filho do presidente Jair Bolsonaro com a sua. Não é um bom momento para tais comparações...
No momento do anúncio, Chico cometeu uma indiscrição ao revelar que momentos que antecederam sua reeleição em 2016 o relacionamento entre Serginho e ele não era dos melhores mas que os perrengues foram superados. Ao que tudo indica, ao se curvar à Sérgio e retirar da chapa seus correligionários, Chico pensa em vir a ser apoiado por Serginho numa futura candidatura a deputado estadual.
Mas antes precisa combinar com os russos, melhor com as lideranças estaduais. Momento depois do anúncio o deputado federal Fábio Mitidieri, homem forte do PSD sergipano, se manifestou efusivamente cumprimentando o ex-prefeito e elogiando a escolha. Do lado petista, nenhuma manifestação relacionada ao que ocorreu em Glória. Em se prevendo que Rogério Carvalho e Fábio Mitidieri sonham em sentar na cadeira de governador o caso da autofagia no grupo situacionista gloriense é sintomático para o que se avizinha em 22.
Resta saber se o bordão “Serginho do Glória” será proporcionalmente legitimado nas urnas por “Glória de Serginho”.
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