Análise de petista revela: "Eliane tentou ser candidata ao senado na chapa governista”

Tadeu Brito afirma que a ex-vice-governadora pelo PT tentou até o prazo limite das convenções partidárias ser a candidata ao senado na chapa governista


03/01/2023 16:08

por Tadeu Brito / dirigente do Diretório do PT em Sergipe 

Num universo de 1.353.538 votantes, perdemos o Governo de Sergipe no segundo turno por 41 mil votos. Foram 624 mil contra 583 mil, em números arredondados. Venceu o Centrão e a extrema-direita sergipana. Nosso candidato, o senador Rogério Carvalho, foi o único parlamentar federal do PT a votar favorável no Orçamento Secreto de Bolsonaro. Perdemos para Fábio Mitidieri, então deputado federal do PSD, que também votou favorável ao orçamento secreto. É a máxima popular: “petistas não podem errar como os demais!” (Depois de eleito, Fábio reconheceu que no segundo turno não pediu voto para Lula).

Lula ganhou em todos os municípios nos dois turnos (829mil e 863mil, 63% e 67%). No primeiro turno, Rogério teve 340 mil votos e não venceu por pouco, mas ficou 490 mil votos atrás da votação de Lula. A diferença no turno decisivo ainda foi muito grande: 280 mil atrás de Lula. Mas por que isso ocorreu? Por que 100 mil eleitores de Lula, no mínimo, votaram 13 para presidente e votaram branco ou nulo para governador?

O candidato de Bolsonaro ao governo de Sergipe no primeiro turno, Valmir de Francisquinho (PL), teve seus 458 mil votos declarados nulos e, no segundo turno, negociou e declarou apoio a Rogério, ampliando contraditoriamente, a votação e a rejeição do petista.  Cabe perguntar: quais elementos a coordenação da campanha e o próprio Rogério levaram em consideração para tomar essa decisão? Havia alternativa? Houve salto alto após anúncio? Por que a militância não recebeu prioridade e condição material para fazer uma campanha de massas? Por que será que a prioridade dada ao grupo de direita recém aliado não resultou em votos para Rogerio? Será que a extrema-direita que votou em Valmir no primeiro turno se revoltou e no segundo turno passou a integrar a ofensiva militante contra a candidatura petista? Ou será que a única responsável pela nossa derrota foi o poder econômico dos adversários?

Participei de quatro atividades pós eleição: a) Rogerio reúne centenas de apoiadores para só ele falar que “tudo foi certo em nossa campanha e perdemos por causa do poder econômico alheio”; b) depois, uma ampla reunião das frentes políticas e centrais sindicais para “ligar o alerta” contra as mobilizações da extrema-direita e construir a Marcha da Consciência Negra; c) ato continuo, ocorre uma reunião da AE/PT; e por fim, d) no último sábado se reuniu o Diretório Municipal do PT de Aracaju, que frente as diferentes e polémicas avaliações, marcou um Seminário de Balanço e Perspectivas para 14 de Janeiro de 2023. Faltam ainda muitos espaços para a militância debater e opinar.

Rogério se tornou candidato ao governo, já sendo muito atacado por servidores públicos e militantes de esquerda por algumas práticas neoliberais em sua passagem como secretário estadual saúde. Criticado como “gestor arrogante, político pragmático e de pouca escuta”, Rogério reforçou tudo isso quando desobedeceu ao PT e votou no orçamento secreto. A campanha adversaria soube popularizar essas questões, ao ponto de popularizar o apelido “Secretinho”.

Lembremos que após a cobrança pública do PT nacional e da militância petista da AE/SE, Rogério na véspera da homologação da candidatura ao governo, muda de posição e vota contra o orçamento secreto, fazendo uma autocrítica pública tímida, que é utilizada no seu programa eleitoral e em debates com as demais candidaturas. Mas não conseguíamos “ferir de morte” a candidatura de Fabio, que votou favorável no Orçamento Secreto e estava na prática com Bolsonaro e a extrema-direita.

Some aos problemas acima: a) Eliane Aquino, ex-vice-governadora pelo PT, e “embaixadora da Fundação Lemann”, tentou até o prazo limite das convenções partidárias, ser a candidata ao senado na chapa governista de Fábio/PSD, inclusive avaliando a possibilidade de trocar de partido. O petismo e Lula reagiram forte e Eliane se torna candidata a deputada federal pelo PT, mas exige e recebe privilégios políticos da candidatura majoritária.

Mais problemas: (a) os prefeitos do PT de São Domingos e Feira Nova apoiaram o PSD para governador; (b) nenhum dos cinco prefeitos petistas apoiou candidaturas de deputado/a estadual do PT; (c) os prefeitos do PT de Cristinápolis e de Salgado apoiaram candidaturas proporcionais de Bolsonaristas e/ou Governistas; (d) dirigentes petistas apoiaram candidaturas de deputado/a estadual de direita (exemplo: Roberto Araújo e Rui Brandão apoiaram o deputado eleito Adailton Martins/PSD). Os casos acima serão denunciados à comissão de ética. Pois como diz o ditado: “o uso do cachimbo deixa a boca torta” e “ nada acontece por acaso”: ou será que a falta de força militante na chegada não tem a ver com o que fez a maioria do PT/SE em 2018 ao se aliar a candidatura de Belivaldo (hoje odiado) sem realizar o plebiscito com a militância petista; depois em 2019 essa mesma maioria silenciou, permitindo na prática, que um de seus dois deputados estaduais votasse na retirada de direitos dos trabalhadores durante reforma da previdência pública estadual e depois “engavetou” o pedido de Comissão de Ética para o deputado traidor; já em 2021, quando percebem que a maioria governista de direita não aceitava a candidatura de Rogerio ao governo, decidem (atrasados) que o PT deve romper com o grupo liderado por Belivaldo, mas permitem que a vice governadora petista, faça de conta que tudo está como antes…

O conjunto de equívocos citados integra um conjunto maior de elementos que devemos avaliar nas direções municipais partidárias e nas plenárias com a militância do PT .

Por pouco, vencemos as eleições presidenciais. Temos que comemorar a vitória de Lula e vitória política que fez de Rogerio uma liderança mais forte, apesar da derrota eleitoral. Mas é obrigatório lutar, estudar, organizar e avaliar a derrota em Sergipe! Acredito que a linha política moderada e eleitoralista, aquela que afirmou no início da pandemia: ‘vamos deixar Bolsonaro sangrando – e matando – para podermos vencer as eleições presidenciais’, deu sinais degenerados de estagnação.

Entendo as críticas feitas a Rogério, em parte concordo com elas, mas faltou um pouco mais de “instinto de peão” em alguns setores da esquerda organizada (o PSTU local e a vereadora, deputada eleita, do PSOL, Linda Brasil, declararam voto nulo para governador. O que na prática ajudaram Fabio, André Moura e Laercio Oliveira a ganhar o governo estadual e maioria na Assembleia Legislativa). Se não fosse a “consciência de classe” da militância anônima petista, que sabia que da parte dos adversários não viria, e nem virá, flores e chocolates, nossa derrota eleitoral, se transformaria também numa derrota política.


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