GREVE GERAL, O DIA EM QUE O BRASIL PAROU


02/05/2017 09:48

Em 1917 acontecia a primeira greve geral no Brasil. Centenas de operários, em especial mulheres, do setor têxtil de São Paulo davam início ao que se tornaria mais adiante uma greve generalizada a todos os setores da economia do país. A conjuntura naquele momento era outra. Os trabalhadores lutavam por melhores salários e por redução de suas jornadas de trabalho. Entretanto, havia pautas específicas, a exemplo da luta contra o assédio sexual praticado contra as operárias pelos contramestres que supervisionavam o trabalho nas fábricas. Há 100 anos, trabalhadores e trabalhadoras paravam o Brasil.


A greve geral do dia 28 e abril trouxe como principais pautas reivindicatórias a reforma da previdência e a reforma trabalhista. A primeira extingue a perspectiva de aposentadoria do trabalhador brasileiro, além de promover o desmonte do sistema de seguridade social. Já a segunda, dizima inúmeros direitos trabalhistas, impondo à CLT a condição de “letra morta” na medida em que o negociado se sobrepõe ao legislado. O cenário atual é crítico e excessivamente nocivo aos trabalhadores. Sob forte pressão do setor patronal e a pretexto de “modernização das leis trabalhistas”, essa reforma já passou pela câmara dos deputados e agora segue para votação no senado. Como o capital não dá trégua, neste intervalo, organizações internacionais, como o FMI, pressionam o governo ilegítimo para a aprovação na mais breve data da reforma da previdência.


Apesar de sermos o menor estado da federação, Sergipe deu exemplo de mobilização e luta. Além das diversas barricadas que obstruíram rodovias estaduais e BRs que cortam o estado, várias ações se concentraram na capital, onde, sob a coordenação das centrais sindicais, trabalhadores e movimentos sociais impediram a saída dos ônibus do transporte coletivo com o fechamento de suas garagens, além de terem fechado as lojas do centro comercial de Aracaju. A cidade parou, o estado parou. Como sobrava fôlego ao entusiasmo dos trabalhadores, à tarde, junto com o povo sergipano, fora realizado um dos maiores, senão o maior ato público da história desse estado. Cerca de 50 mil pessoas saíram às ruas de Aracaju para se manifestar contra as referidas reformas, mas, sobretudo, contra o governo golpista de Michel Temer. O ato que se concentrou na praça General Valadão terminou simbolicamente no bairro 13 de Julho, reduto de setores abastados de “Sergipe Del Rey”.


Apesar do consenso entre todas as centrais sindicais, merece destaque o papel desempenhado pela CUT, central sindical que reuniu o maior número de sindicatos em greve no dia 28 e de onde partiu o maior número de militantes para fazer acontecer a greve geral. Também merece destaque a atuação da deputada estadual Ana Lucia e do vereador por Aracaju Iran Barbosa, ambos do PT. Os parlamentares, orgânicos da luta sindical e da militância social estiveram presentes, do início ao fim, nos atos do dia 28, amanhecendo o dia na porta da garagem de uma empresa de ônibus de Aracaju, apoiando os trabalhadores e contribuindo com o movimento.


Foi claro o boicote da grande mídia contra a greve geral. A imprensa internacional e a mídia alternativa repercutiram com muito mais precisão como foram os atos em todo o Brasil, porém quem apostava no insucesso da greve deve ter ficado muito decepcionado com o resultado final. O setor empresarial reclama de prejuízos que ultrapassam os R$ 5 bilhões de reais em todo o país. Aqui em Sergipe, em especial em Aracaju, empresários anunciaram promoções para o dia da grande greve e o setor de transporte “garantiu” que os ônibus circulariam normalmente. Mesmo com essas investidas para a desmobilização, o movimento foi maior do que se previa.


Embora a maioria dos atos tenha transcorrido de forma pacífica, novamente a polícia militar atuou de modo deplorável na repressão ao povo. Como já lhe é característico, a PM agiu com excesso em quase todas as manifestações. Aqui em Aracaju, uma viatura furou o bloqueio feito na rua e ainda ameaçou atropelar os trabalhadores que estavam em frente a uma empresa de ônibus. No Rio de Janeiro, bombas foram lançadas sobre crianças e idosos, chegando até a atingir parlamentares que participavam de ato pacífico no Centro daquela cidade. Tão grave quanto o que houve no Rio foi a tentativa de homicídio de um policial contra um jovem em Goiânia. O estudante Mateus da Silva foi atingido por um cassetete na cabeça e encontra-se em estado grave internado na UTI de um hospital, em Goiânia. Há também pessoas que foram presas no dia da greve geral e que permanecem detidas. A manutenção dessas prisões é ilegal, pois tem caráter político.


Essa não foi a primeira e não será a última vez que os trabalhadores, de forma unificada, foram às ruas defender seus direitos. A greve é um instrumento de luta, inclusive previsto pela nossa Constituição. É hora de ocuparmos cotidianamente as ruas desse país e intensificarmos a luta contra a retirada de direitos, só assim conseguiremos derrubar esse governo golpista. Nesse momento, essa é a principal arma dos trabalhadores. O mote do movimento é claro: “nenhum direito a menos”, por isso, como já dizia o grande Marx: “trabalhadores do mundo, uni-vos”.


Quer receber gratuitamente as principais notícias do Política de Fato no seu WhatsApp? Clique aqui.