Com nota infeliz, líder André atrai Ana Lúcia para o arranca-rabo e ela vai ao estilo próprio: na jugular

Por Joedson Telles.


25/05/2017 13:42

Sabe aquele momento definido como infeliz? Impensado? Que não deveria ter existido? O deputado federal André Moura, o líder do governo Michel Temer no Congresso Federal, avocou para si desnecessariamente. Velando o lugar comum, buscou sarna para irritar a própria pele, ao decidir fazer uma nota de repúdio, dando mídia a uma manifestação tola que batiza como vandalismo, realizada por pessoas ligadas ao PT e ao PC do B em frente à sede do PSC, legenda a qual preside. Se o próprio André Moura admite que não houve depredação, pessoas encapuzadas, outras feridas, violência… Só pichação que uma camada de tinta resolve, por que dividir o seu foco com um caso tão minúsculo perto da casa prestes a desabar, em Brasília?

Pior que mexer no episódio num momento em que o presidente aliado tem a cabeça se aproximando da guilhotina só mesmo fazer isso e ainda levantar a bola sonhada pela deputada petista Ana Lúcia bater com vontade. A nota do PSC, ingenuamente, menciona “uma deputada do PT”. Ao seu estilo cruel, a única deputada do PT que estava lá foi pra cima do líder André sem piedade e deu, digamos, “um polimento” na imagem do deputado. Tentaram apagar o fogo com gasolina. Ana foi na jugular.

Saca só o que diz uma deputada do PT, ao participar do programa do radialista Gilmar Carvalho, na manhã desta quinta-feira, dia 25, ao vivo, com o deputado André Moura na linha, ouvindo tudo, após explicar que esteve, sim, à porta da sede do PSC, ao lado de professores, mas que não houve tentativa de invasão ou qualquer tipo de violência. 

“André está muito arrogante. Mas não pode esquecer que ele é o líder de um governo golpista e que precisa renunciar. A população disse que não aceita eleição indireta, que não aceita continuar sendo governada pelo golpista Temer. Não podemos aceitar um golpe dentro do golpe porque ele mesmo deve estar incluído porque o grande padrinho dele chama-se Eduardo Cunha, que já disse que vai fazer a delação premiada, que todos os delatores dizem que tem 150, outros 176 que venderam seu voto para o impeachment e 28 senadores. Ele comanda e é o grande líder desse grupo. Ele tem que explicar essa amizade dele com Eduardo Cunha que responde a não sei quantos processos e está comprovado que foi dinheiro de enriquecimento ilícito”, disse Ana Lúcia.

A deputada do PT prossegue garantindo que, se o deputado André Moura abrir um processo contra ela, não sabe se provará algo. “Eu estava lá, mas o que eu estava fazendo de errado você vai ter que provar. Mas os seus processos são gravíssimos. É uma diferença substantiva da forma de eu conceber a política e da sua. Não provoque porque eu não tenho medo da sua arrogância. Estou idosa e não tenho medo de um jovem com muita energia e com muito apoio da elite brasileira. André precisa explicar porque está liderando um governo, mas o mandato dele é em cima de uma liminar. Ele não tomou posse como eu tomei. Ele tem muitas explicações a dar ao PT, à população brasileira, à população de Sergipe. A arrogância do deputado está no texto da nota que o PSC coloca”, diz Ana conformando a infelicidade da nota.

André Moura
Por sua vez, o deputado André Moura André Moura afirma que no seu histórico não têm momentos que justifiquem a acusação. “É lamentável quando a senhoras me chama de golpista. Pena que a senhora não chamou de golpista seus companheiros que são os grandes responsáveis pelos problemas de corrupção no Brasil, a exemplo de Palocci, Mantega, Zé Dirceu, Lula. Não chamou nenhum deles de golpista, no ano passado, não vi a senhora fazendo manifestações contra o esquema de corrupção que foi criado e que teve o PT como o maior responsável na história do nosso país. Eu entendo que isso faz parte da sua militância. Fechou os olhos no ano passado, apesar de todo esse esquema de corrupção”, retrucou o deputado líder do governo Temer.

André ironizou a ideia de Ana Lúcia sobre uma renúncia do presidente Michel Temer. “Pena que a senhora não entendeu também que o governo passado tinha que renunciar, o governo responsável pelo maior escândalo de corrupção da história do Brasil. O que ouvimos e vimos em Brasília foram atos praticados pelos companheiros da senhora, diferente das manifestações que vimos a um ano atrás com manifestações ordeiras. O que vimos, ontem em Brasília, foi manifestação de pessoas que foram deslocadas de outros estados, recebendo para isso, com muitos atos de terrorismo, pichação do Museu Nacional, do terminal rodoviário, atos de vandalismo que não podemos aceitar. Aceitamos as manifestações ordeiras e legítimas e acho que tem que continuar existindo.  A palavra final continuará sendo do povo brasileiro”, disse André.

O deputado do PSC ainda salientou que também é favorável à eleição direta, mas o pleito precisa ser dentro do cronograma estabelecido pela Constituição. “Todos vamos estar defendendo aquilo que eu entendo que é melhor para o Brasil e para Sergipe. Quanto à questão de processar a deputada, nossa assessoria jurídica está fazendo a análise dos vídeos e eu não disse que vou processar a deputada. Disse que vamos tomar atitudes judiciais”.

André encerrou sua participação afirmando que quem menos tem legitimidade nesse país para falar de qualquer que seja o processo são os petistas. “Gostaria muito que os petistas tivessem essas mesma disposição, essa mesma coragem de ir para ruas para poder protestar contra o esquema de corrupção na Petrobras, contra o esquema de corrupção no BNDES, em relação à própria JBS, aos fundos de pensão, mas vamos seguir em frente. Deputada Ana Lúcia defende o que acha que é correto, eu defendo o que eu acho. Nesse momento temos que trabalhar para que o país possa sair da crise e devolver aos brasileiros os milhões de empregos perdidos por conta da política equivocada e incompetente do governo Dilma, e estamos fazendo isso”, disse.

Quem levou a melhor? Ana Lúcia, bolas! Ainda existem dúvidas? É oposição e tenta – e conseguiu – desgastar a imagem do presidente Temer. Do próprio André Moura, ao falar de processos e ligá-lo ao presidiário Eduardo Cunha. Ana trouxe para Sergipe mais chamas do incêndio gigante que destrói Brasília. E, ao menos na teoria, não amealha prejuízo eleitoral por ter um eleitor mais fiel. Mais pautado na ideologia. Aliás, já anunciou que nem disputará as eleições de 2018.

Sei não, mas penso cá com os meus botões que se a tal nota do PSC, ao invés de chamar Ana Lúcia para a briga, enfatizasse os muitos benefícios financeiros que, inegavelmente, o deputado André Moura do PSC trouxe para Sergipe (e ainda tem tempo para trazer mais) na era Michel Temer, o efeito seria o contrário. Teríamos um André Moura bem na fita, ganhando musculatura sem precisar dar explicações. Sem ter a moral colocada em xeque. André Moura tem lá os seus defeitos, evidente. Mas tem virtudes que ficam ofuscadas pelo bombardeio da oposição. É incrível: André Moura conseguiu se tornar líder de um governo federal, mas não consegue neutralizar certos ataques à sua imagem.


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