Estudantes revitalizam espaço público e criam local dedicado ao encontro de moradores em Ribeirópolis (SE)
Grupo se mobilizou após constatar que, por medo de violência, vizinhos estavam abandonando o povoado de João Ferreira.
Sentir. Foi esse o primeiro afazer de um grupo de estudantes do Centro de Educação Básica Auxiliadora Paes Mendonça. A revitalização de um espaço público do povoado rural João Ferreira, localizado no município de Ribeirópolis (SE), nasceu da vontade dos alunos terem uma biblioteca na vizinhança e um lugar dedicado ao encontro, ao coletivo. Isso porque sentiam que, como decorrência de uma forte onda de violência, as famílias estavam cada vez mais reclusas em suas casas ou mesmo deixando a comunidade.
A primeira fase da iniciativa que ocorreu entre junho e dezembro do ano passado é mantida por cerca de 35 crianças e jovens que estão entre a educação infantil e o 1º ano do ensino médio. Em setembro de 2016, durante a fase inicial de revitalização, o grupo se encontrava semanalmente para decidir sobre cada passo do projeto. “Foi uma demanda que surgiu da vontade deles [dos estudantes] de fazer algo pelo nosso povoado. Porque vivenciaram o silêncio e as pessoas indo embora daquele lugar [até então] sem um espaço coletivo”, conta Paula Libório, que é coordenadora de projetos sociais da Fundação Pedro Paes Mendonça, organização que mantém a escola.
A Segunda Casa está pronta desde dezembro do ano passado e acabou se tornando um ponto de encontro ao receber crianças e jovens da comunidade, que se reúnem toda semana para brincar e pensar novos projetos de melhoria para o espaço. O grupo de estudantes responsável pelo projeto segue fazendo reparações no local, mas agora com a ajuda de novos jovens que aderiram à iniciativa.
Somando forças
Além dos alunos do colégio, o projeto envolveu o “Agrofoto” e a “Turma da Horta”, grupos de jovens de fora da escola que, respectivamente, realizam atividades relacionando fotografia com agroecologia e ensinam técnicas do cultivo de plantas a crianças. Para animar os mutirões organizados pelo grupo, houve também a participação da banda de percussão da escola durante as reformas da Segunda Casa.
Dedicados a mudar a realidade de silêncio e medo do povoado João Ferreira, os estudantes contaram com o apoio de seus familiares para resolver cada um dos problemas levantados. “No começo foi difícil ter o apoio deles [familiares], mas a gente conseguiu que eles saíssem de casa para fazer algo que gostavam. [Hoje,] eles dão muito valor [ao projeto,] porque foram os próprios moradores que propiciaram esse lugar de encontro”, comemora Êmeli.
Como resultado desta troca de saberes, os estudantes resgataram práticas antigas e aprenderam, por exemplo, que é possível usar fogo ao invés de veneno para espantar vespas e que óleo queimado pode ser usado para retirar cupins de portas e janelas de madeira.
Apesar de as reformas terem ocorrido em sua maioria em 2016, o grupo continua criando e implementando melhorias no espaço. Os próximos passos, segundo Paula, devem ser dados para a produção de uma lixeira destinada à coleta seletiva, a construção de um banheiro seco e a reivindicação do fornecimento de energia elétrica para o local. Para isso, os estudantes produziram um livrinho com a história da Segunda Casa com o objetivo de divulgá-lo a um vereador e conseguir o auxílio da Prefeitura de Ribeirópolis.
Redação: Luiza Cruz
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: Divulgação
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